Diálogos de Tirar o Chapéu - por Thais Duque-Estrada



É tempo de inovar. E isso não é novidade.
É tempo de explorarmos por novas vias todo o nosso potencial criativo. Nada novo, de novo.
Mas como?
Diante dessa perspectiva, já amplamente discutida, que nos conduz a inúmeras definições e metodologias que envolvem esses temas, nos deparamos com diversos cenários e ferramentas bastante desgastados. Dentre eles, as dinâmicas de grupo: ferramentas poderosas, com grande potencial de converterem o indivíduo em um elemento ativo, que, quando bem utilizadas, são capazes de promover integração, motivação, aprendizagem, abstração, criação, inovação.
As dinâmicas de grupo, por si só, não "nos dizem" nada. Se pensarmos quantas danças das cadeiras já foram promovidas por nossas mães, tias e vizinhas em nossas infâncias, rapidamente concluiremos que para aplicá-las, não há que haver prática, nem tão pouco habilidade. A sua importância e eficácia se dão no manejo de quem as utiliza e no olhar de quem as interpreta.
O objetivo da atividade que será desenvolvida é o aspecto determinante na escolha da dinâmica, que norteará a condução e a escuta do facilitador. Mas vale ressaltar que uma mesma atividade pode ser aplicada para fins distintos. Reside, também aí, a importância de um profissional qualificado para realizar essa "transposição". Caso contrário, corre-se o risco de haver uma exposição desnecessária dos participantes, uma mobilização de emoções que o facilitador possa não dar conta de lidar, ou, simplesmente, de haver um jogo qualquer, que não propicie nenhum crescimento individual ou do grupo. Situação que ocorre com frequência e que é a gênese da banalização desse valioso recurso que é a dinâmica.
No último encontro com um grupo do Citibank, no qual conversávamos sobre "Business Model Generation",  nos utilizamos  de uma dinâmica que denominamos de "Diálogos de Tirar o Chapéu". Nosso intuito era promover um "aquecimento" para o brainstorming, que seria a atividade seguinte praticada no dia.
Antes de descrever o exercício, é fundamental ressaltar que o mesmo foi inspirado em uma dinâmica criada pelo Dr. De Bono. Inspiração somente. Nosso objetivo não era o original por ele proposto, tão pouco nos utilizamos das regras por ele apresentadas, portanto.
A atividade consistiu em solicitar aos participantes que usassem chapéus que nós distribuímos, nas cores Verde e Preto. Um único participante, o facilitador, utilizou-se do Azul. Os usuários de chapéu verde, seriam os inovadores, otimistas, criativos, positivistas, que apresentariam novas propostas, implementáveis ou não. Surrealismo e utopia eram bem vindos. Os de Preto, seriam os oposicionistas, presos às regras, avessos a mudanças, pessimistas, enfim.
O facilitador incitava os participantes de chapéu verde na cabeça a apresentarem ideias inovadoras para um determinado negócio, enquanto os de preto, buscavam destruir todas as possibilidades que aparecessem. Quando eles menos esperavam, seus chapéus eram trocados, ou seja, alguém que estava rebatento veementemente determinada ideia, passava a ser obrigado a defendê-la convictamente. E alguns elementos do grupo não receberam chapéu, não tendo direito assim, de opinar, cocriar ou criticar.
Para nós, é muito clara a relação que há entre jogo e trabalho.
Mas, dado o descrédito em que caíram tais atividades, resolvemos dividir essa experiência aqui. Pois essa atividade que desenvolvemos, com o simples intuito de aquecer o fluxo de ideias dos participantes, de suas capacidades de argumentação e de escuta, sem nenhum outro objetivo maior ou mais complexo, acabou por reverberar durante todo o trabalho que foi desenvolvido durante aquela tarde.
Os participantes solicitavam aos outros que tirassem seus chapéus dessa ou daquela cor, quando eles já não mais os possuíam na cabeça; dando-nos o feed-back, ao final do dia, do quão importante foi o exercício de defender ideias que nem sempre lhes faziam sentido por inteiro; do quanto perceberam-se resistentes frente a novas ideias dos colegas, rebatendo-as sem escutá-las atentamente e do quanto ter permanecido sem chapéu, ou seja, sem voz, os fez refletir sobre a necessidade de apurarem suas escutas.
Acreditamos que com uma boa condução nas dinâmicas de grupo, com objetivos claros e pré determinados, bem como uma leitura atenta de tudo que pode vir a aparecer, é possível alinhar angústias, lógica, informação, criatividade, para a busca de novas soluções.