Discurso das marcas de moda 1

Ontem, foi publicada uma entrevista com o professor João Braga no site da revista L´Officiel Brasil, cuja chamada era "A Moda através do Tempo - Em entrevista exclusiva, João Braga fala sobre a função dos veículos de moda na sociedade moderna. Por Bira Veneziane".

Fiquei extremamente curiosa, pois, como a maioria já sabe, estou às voltas com a conclusão de minha dissertação de mestrado, onde analiso  o impacto do formato dos anúncios de moda, na formação do imaginário das marcas brasileiras. Em outras palavras, será que o investimento em anúncios, da forma com têm sido criados, está contribuindo para que haja uma percepção de diferenciação entre os discursos das marcas anunciantes?

João Braga discorre a respeito da evolução das formas de divulgação das informações de moda, assim como da linguagem utilizada. Quero destacar a seguinte fala: "A partir de um segundo momento, especialmente nos anos 80, muitos passaram a difundir o conceito de uma coleção, e não a roupa propriamente dita, e o que passa a valer é a idéia que aquele visual nos apresenta (grifo meu). Atualmente vemos nas passarelas e editoriais imagens absolutamente conceituais. Elas transmitem um conceito para que o leitor ou espectador apure e se aproprie dele, transformando em alguma coisa que de fato possa ser colocada sobre o corpo." O que ele chama de idéia apresentada, também pode ser chamado de discurso.


Não apenas as passarelas e os editoriais usam "imagens absolutamente conceituais", mas os catálogos, os anúncios, as malas-diretas, os sites e todas as demais formas de comunicação com o consumidor final. As marcas assumiram que o discurso apresentado nos desfiles (que não são assistidos ou nem mesmo entendidos pela maioria) é reconhecido em todo o mix de comunicação e, consequentemente, apropriado como algo a ser colocado sobre o corpo. Se isto de fato ocorre, podemos dizer que o processo comunicacional está perfeito, uma vez que só existe comunicação quando o receptor se apropria e transforma a mensagem recebida.


Para apropriação é necessário entendimento. E para as marcas não basta a apropriação, se o consumidor não tiver consciência de quem está fazendo o discurso. Pois, se não há esta diferenciação, fica a sensação de um discurso do mundo imaginário da moda em geral e não de um mundo imaginário particular. É preciso que o consumidor entenda cada um dos discursos, saiba diferenciá-los e identifique seus autores.

Este post já ficou enorme. Amanhã começo a contar um pouco das minhas descobertas. Para quem não reconheceu, as imagens são do desfile e anúncio da Animale para o inverno 2010, respectivamente.